sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Mais brasileira do que nunca



Voltei da Alemanha há 5 dias. Depois de 13 dias reveladores de viagem e de uma maratona intensa em aeroportos, estou em meu lar. Tão desejado lar nos dias de frio intenso e hábitos tão diferentes.
O costume ainda não voltou. Minha gastrite piorou porque não comia direito lá (acreditem, o frio até faz esquecer da fome), ainda não consigo dormir direito e apesar de ter desejado tanto, o calor tem incomodado bastante.
A verdade é que o meu lugar é aqui. E quanto mais viajo, mais confirmo. Esse foi construído como "meu lugar" por todas as trajetórias que já passei. Inclusive, quando se fala 'lugar' já se abrange todas as particularidades de um modo de viver. Isso a gente aprende naquelas velhas aulas de Geografia, onde passam a estabelecer o que é "nação", "Estado", "lugar". Enfim.

A Europa é melancólica no inverno, naturalmente, mas mais melancólica ainda por toda a história que já passou por ali. A Alemanha se ressalta nesse aspecto histórico pelas lembranças lamentáveis da 2ª Guerra Mundial.
Apesar de no país não ter nenhuma referência a Hitler (inclusive, no museu Madame Tosseau [estátuas de cêra], a estátua de Hitler foi retirada por ofender as lembranças da população), os rastros do Muro de Berlim, as homenagens aos que morreram levam a recordar quanto sofrimento já surgiu dali.


[a cara de feliz é a cara natural dos turistas. Afinal, é o contato com a história!]

Apesar disso, é legal perceber como o passado não prende as mudanças que acontecem e ainda estão por vir. A rotina se desenrola normalmente no país e se não fossem as homenagens (mais vistas em Berlim) aos que sofreram os atentados da guerra, difícil seria a lembrança. Afinal, a Alemanha já está unida há 20 anos.
Estava conversando com uma brasileira, casada com um alemão há 2 anos e meio e ela contou que os alemães ainda estão presos à ideia de culpa. Dizendo ela, na escola as crianças são ensinadas a terem culpa por serem alemãs e por terem feito parte de tanta desgraça. O pior é que ela compactua com essa ideia, que são culpados mesmo.
Uma pena esses 20 anos não terem transformado essa ideologia ultrapassada de culpa. Uma população com culpa é uma população presa. Presa a estereótipo. E estereótipos limitam atitudes e impedem o progresso.
Nisso, posso dizer que o Brasil é mais avançado. Na minha educação não fui ensinada a me sentir culpada pelos tempos de tortura da ditadura militar. Na verdade, foi construído todo um aparato de pensamentos para que víssemos quão paradoxal era o sistema e como somos privilegiados hoje em dia, por sermos jovens e livres. Sou muito feliz por ser jovem e livre nesse país e também, orgulhosa pela riqueza histórica, pelas mudanças que vejo (mesmo lentas) no decorrer dos dias...
Muita gente fala mal do Brasil, é comum o jargão "Só podia ser no Brasil...". A sociedade brasileira se desvaloriza de maneira gradual, enquanto as mudanças ocorrem aos nossos olhos. O Brasil é um país jovem, corre aceleradamente pra se igualar aos países desenvolvidos. Mas eles, os ditos desenvolvidos, tem muito mais anos de história e tempo é crescimento!
E bom, infra estrutura, economia crescente, sociedade bem educada, não deveriam ser os únicos parâmetros pra se afirmar que uma nação é desenvolvida. O pensamento que passa na mente dos moradores da nação são o ponto de partida para gestões posteriores, ações futuras que condicionarão o modo de vida dos mesmos. E isso, que achei tão absurdo, de sentimento de culpa na Alemanha, é retrocesso, estagnação. Não é desenvolvimento.
Viajar por lugares tão distintos e distantes não só acrescenta imensuravelmente a bagagem cultural, como também fazem surgir essas comparações. Tempos de reflexão... é necessário.

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