segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Do ofício de escrever

Escrever sempre tem algo de auto biográfico. Quem escreve sempre arranja um meio de, nas entrelinhas, na combinação das letras, rimas e palavras, se auto revelar. Porque não consegue achar outro meio de exprimir qualquer coisa que se sinta.
Às vezes, nem sente. Mas pela necessidade do sentir, escreve, e assim, se encontra. Ou pelo menos tenta.
Na verdade, é o não-encontro de si mesmo que impulsiona quem escreve.

Neste caso, escrevo pra tentar resgatar velhos sentimentos, aquele meu eu que nunca mudou, só se escondeu.
Ultimamente, é o ouvir que me contenta. Porque não consigo mais falar com a mesma veemência. E confirmo nos outros o que existe em mim.
Não é insegurança, nem descontentamento, ou incerteza do ser. É apenas mais certeza do que é e por isso, não fala mais.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Divagações de uma mente inquieta


Então é isso. Reclamações martelando a cabeça todos os dias. Insatisfação de tudo. Desgosto. Asco a toda essa prisão de afazeres e rotina.

Como se conformar com uma vida que prende? Vida tem que ser liberdade! Liberdade crativa e de ser.

Tentando me livrar desse sistema vicioso, resolvi ser autônoma. Isso. Trabalhar com o que eu gosto e sem as obrigações chatas de horário e relatório de atividades. Minha criatividade vai finalmente ter espaço para engendrar novos projetos.

Mas passou o tempo. Não consegui fazer muita coisa. Na verdade me sinto inútil. Todos fazem alguma coisa e eu aqui.

Acho que preciso é de uma coisa mais subversiva. Talvez virar hippie ou cantora de rua. Viver apenas dos ímpetos mais primitivos do ser humano. Po, viver os rumos de uma vida anárquica... isso que é uma vida básica e como base será o suficiente.

"Minha netinha vivendo nas ruas? E o meu sonho era ela aparecendo na televisão." No meio do meu projeto mental, surgiu a voz da minha vó. Que estranho. Vovó já não sabe mais como é viver na sociedade atual. Os dias dela deviam ser melhores... ou mais tranquilos..

Um dia desses vi um filme que tinha um cara muito corajoso. Largou tudo pra viajar pelo mundo. E pensa que dinheiro virou problema? Ele viveu só da natureza e quando precisava, ajudava alguém aqui ou acolá e conseguia uns trocados pra continuar. Ele queria chegar no Alaska... pena que morreu desidratado depois de não ter o que comer e ter se envenenado com uma planta venenosa.

Também tem a história daquela bailarina que fugiu da repressão da sua casa e foi dançar pelo mundo. Essa sim fez sucesso! Majestosa e como uma pluma dançando. Viver dançando... sempre quis ser bailarina... mas a majestade sumiu, a velhice chegou e a solidão lhe abraçou.



Toc toc toc



"Filha, não vai dar pra te emprestar o carro hoje. Vai de ônibus."


Putz, ir de ônibus pra universidade? Trânsito caótico logo agora? Perder meu tempo em pé naquele abafado de gente cansada. Melhor eu ir pra arranjar logo um emprego...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mera divagação

Refletindo sobre como se formam as imagens na nossa consciência, e que elas derivam de impressões pessoais, penso o quanto nossa mente está condicionada a pensar errado. Pensar errado no sentido de que se vivêssemos as situações, nós mesmos sendo influenciados pelos fatores condicionantes das mesmas, pensaríamos diferente.
Tentando evoluir o pensamento para outra possibilidade que não nos faça pensadores errados, tento encontrar uma solução para o problema.

De acordo com os meus (poucos) estudos sobre a comunicação, já confirmo defasada a Teoria Hipodérmica, aquela que diz que a mídia conduz os receptores da informação não só ao que pensarem, mas como pensarem. Isso nos faria meros objetos de recepção, sem capacidade e autonomia para pensar ou escolher.
Sendo assim, já detono o meu mito anterior: que penso errado. Ora, o que me contam, o que é noticiado, qualquer que seja a passagem de informação, não me conduz a pensar errado. É apenas uma referência, um relato. E esses são corruptíveis, são conduzidos por variações que devem ser considerados por quem recebe a informação.
(Sei que ninguém tem disposição de analisar, por exemplo, uma fofoca que contam, afim de ver se a pessoa foi persuadida por variações em voga no momento do acontecido, porém é válido lembrar disso nos momentos de incerteza, ao menos).
Bom, o problema é que essa aparente conclusão me fez outra confusão na mente inquieta. Se toda informação sofre variações, não há verdade.
Mas Platão me acalma um pouco, há verdade plena, se em algo estável. "Como o filósofo busca a verdade plena, deve buscá-la em algo estável, nas verdadeiras causas, pois logicamente a verdade não pode variar e, se há uma verdade essencial para os homens, esta verdade deve valer para todas as pessoas. Logo, a verdade deve ser buscada em algo superior."

Então, deixo essa reflexão aparentemente inútil pra me orientar nos momentos que o pensamento se desvia, se confunde e faz tudo andar errado.
Mera digressão.

sábado, 20 de março de 2010

um esboço

Eu, revirado no meu consciente, perturbado pelo meu inconsciente, sempre procurei saber onde, o por que e como. Tinha ânsia de saber o ínicio de todas as coisas.
Tentavam infiltrar a minha crença através de paradigmas nunca superados, mas isso não adiantava, o bom senso nunca me pareceu o meio certo.
Comecei a minha busca desde criança quando passei a analisar meticulosamente todas as coisas. Um gesto, alguma manifestação da natureza, o barulho de todas as coisas. Tudo o que acontecia ao meu redor tentava se infiltrar por um "eu" não decifrado, ansioso por descobrir-se em algum lugar.
Passei a filosofar tanto a minha existência que me perdi em outras vias do viver. Lembro-me que em certas situações não sabia se tinha realmente acontecido o fato ou se era fruto da minha imaginação.
Foi então que surgiu o grito, a maior manifestação que já tinha vivenciado. Nem consegui analisá-lo. Assustei-me. Era o inimigo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O mundo das sub celebridades

Com a corrida tecnológica e os mais diversos tipos de sites surgindo por aí, é meio irreal você não ter o que fazer na internet. Apesar de achar que as coisas são iguais por seguirem o mesmo padrão, a movimentação da informação tem mudado o rumo dos acontecimentos.
A globalização é muito mais perceptível por esse meio comunicacional e por cada um poder mostrar plenamente o que vem na sua cabeça, um surto de criatividade surge e se renova a cada dia que passa.
Sites de textos, vídeos, músicas autorais, dicas de filmes, como você deve se portar em um encontro, como seduzir seu parceiro, etc. Você pode se expôr do jeito que bem entender e isso alcança dimensões nunca antes vistas por qualquer meio comunicacional. A internet é uma das maiores revoluções que já aconteceram no mundo globalizado e concretiza o seu ideal com o compartilhamento em tempo real de informação e muito besteirol.
Assim como a internet facilitou imensamente o acesso ao conhecimento, abriu portas pra produção de um lixo cultural nunca antes visto.
Enfatizo aqui a produção das micro celebridades. Nas situações atuais, qualquer um com sua página na internet, já se sente mais.. digamos assim, "vistos". Ser virtual passou a ser critério de inclusão social.
E aí, começaram a surgir as modinhas, inicialmente com propósitos de comunicação simples. O "orkut" e o "facebook", por exemplo, para aproximar pessoas que estão distantes, reencontrar amigos de infância ou apenas conhecidos. Só que diferentemente do email que também tem o propósito de comunicação simplificada entre emissor e receptor, esses sites, por serem públicos e de acesso fácil iniciaram uma exposição exagerada do ser.
Após isso, a criação de sites mais intimistas foi a continuação da superexposição. O "twitter" que, de início, parecia ter o propósito de ser um microblog focado em notícias rápidas, se tornou o diário de muita gente por aí. E, fugindo do radicalismo e do fundamentalismo, não nego o quão divertido pode ser navegar nesses sites. Situações engraçadas, novidades na cidade, no mundo... os "sites intimistas" (me permiti chamar assim), fizeram com que os famosos mostrassem sua personalidade comum, como de qualquer mero trabalhador e os cidadãos comuns achassem uma maneira de se destacar nesse mundo em que todo mundo parece igual. Eis que acontece a troca das personalidades. O mundo globalizado permite você se encaixar em qualquer grupo social, se assim conseguir. Isso causa uma espécie de euforia geral, todos em busca da fama. Mesmo que seja só no seu colégio ou no seu ambiente de trabalho, ou o desejo mais simples ainda, que o exposto no tal site seja motivo de piada com os amigos... todo mundo quer meter a boca no mundo. E acho isso um fenômeno e tanto.
Ultimamente teve o estouro do site mais intimista que já vi, o "formspring.me". Esse ainda estranho completamente. As pessoas aceitam responder perguntas de anônimos ou até mesmo de conhecidos e me permito enfatizar... qualquer pergunta.
Estranho por isso ser uma completa exposição da vida pessoal. As pessoas se sujeitam a responder sobre os seus podres e confirmar a fama que as más línguas lhes inserem. É um desprendimento da privacidade. Parece-me que todos querem que sua vida seja um reality show.



Novas ferramentes de exposição ainda estão por vir, certamente. Porém, questiono o rumo que tudo isso leva, se isso forma mentes sãs e não simplesmente alienadas nessa onda tecnológica. Medo de me tornar escrava de robôs. Mas isso é só uma mente fértil demais acostumada a ver filmes catastróficos sobre a espécie humana... afinal de contas, levar tudo muito a sério, é chato demais.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Mais brasileira do que nunca



Voltei da Alemanha há 5 dias. Depois de 13 dias reveladores de viagem e de uma maratona intensa em aeroportos, estou em meu lar. Tão desejado lar nos dias de frio intenso e hábitos tão diferentes.
O costume ainda não voltou. Minha gastrite piorou porque não comia direito lá (acreditem, o frio até faz esquecer da fome), ainda não consigo dormir direito e apesar de ter desejado tanto, o calor tem incomodado bastante.
A verdade é que o meu lugar é aqui. E quanto mais viajo, mais confirmo. Esse foi construído como "meu lugar" por todas as trajetórias que já passei. Inclusive, quando se fala 'lugar' já se abrange todas as particularidades de um modo de viver. Isso a gente aprende naquelas velhas aulas de Geografia, onde passam a estabelecer o que é "nação", "Estado", "lugar". Enfim.

A Europa é melancólica no inverno, naturalmente, mas mais melancólica ainda por toda a história que já passou por ali. A Alemanha se ressalta nesse aspecto histórico pelas lembranças lamentáveis da 2ª Guerra Mundial.
Apesar de no país não ter nenhuma referência a Hitler (inclusive, no museu Madame Tosseau [estátuas de cêra], a estátua de Hitler foi retirada por ofender as lembranças da população), os rastros do Muro de Berlim, as homenagens aos que morreram levam a recordar quanto sofrimento já surgiu dali.


[a cara de feliz é a cara natural dos turistas. Afinal, é o contato com a história!]

Apesar disso, é legal perceber como o passado não prende as mudanças que acontecem e ainda estão por vir. A rotina se desenrola normalmente no país e se não fossem as homenagens (mais vistas em Berlim) aos que sofreram os atentados da guerra, difícil seria a lembrança. Afinal, a Alemanha já está unida há 20 anos.
Estava conversando com uma brasileira, casada com um alemão há 2 anos e meio e ela contou que os alemães ainda estão presos à ideia de culpa. Dizendo ela, na escola as crianças são ensinadas a terem culpa por serem alemãs e por terem feito parte de tanta desgraça. O pior é que ela compactua com essa ideia, que são culpados mesmo.
Uma pena esses 20 anos não terem transformado essa ideologia ultrapassada de culpa. Uma população com culpa é uma população presa. Presa a estereótipo. E estereótipos limitam atitudes e impedem o progresso.
Nisso, posso dizer que o Brasil é mais avançado. Na minha educação não fui ensinada a me sentir culpada pelos tempos de tortura da ditadura militar. Na verdade, foi construído todo um aparato de pensamentos para que víssemos quão paradoxal era o sistema e como somos privilegiados hoje em dia, por sermos jovens e livres. Sou muito feliz por ser jovem e livre nesse país e também, orgulhosa pela riqueza histórica, pelas mudanças que vejo (mesmo lentas) no decorrer dos dias...
Muita gente fala mal do Brasil, é comum o jargão "Só podia ser no Brasil...". A sociedade brasileira se desvaloriza de maneira gradual, enquanto as mudanças ocorrem aos nossos olhos. O Brasil é um país jovem, corre aceleradamente pra se igualar aos países desenvolvidos. Mas eles, os ditos desenvolvidos, tem muito mais anos de história e tempo é crescimento!
E bom, infra estrutura, economia crescente, sociedade bem educada, não deveriam ser os únicos parâmetros pra se afirmar que uma nação é desenvolvida. O pensamento que passa na mente dos moradores da nação são o ponto de partida para gestões posteriores, ações futuras que condicionarão o modo de vida dos mesmos. E isso, que achei tão absurdo, de sentimento de culpa na Alemanha, é retrocesso, estagnação. Não é desenvolvimento.
Viajar por lugares tão distintos e distantes não só acrescenta imensuravelmente a bagagem cultural, como também fazem surgir essas comparações. Tempos de reflexão... é necessário.