terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A desordem chegou nas palavras.

E agora que as palavras não se amigam mais comigo?
Que quando as uso, as faço cortantes.
Que quando as quero, não as encontro.
E quando não quero... saem desesperadas, desordenadas e subversivas.
estragando tudo.

Como todo rebelde sem causa que depois volta à si, que voltem à si.
Voltem a mim.

sábado, 12 de dezembro de 2009

E mesmo assim, as escadas para o céu.


Hoje presenciei um tiroteio. Com os ouvidos. Pensei que fossem fogos. Ouvi a sirene da polícia. Pensei que fossem aqueles carros com buzinas engraçadas. O som da sirene realmente tava meio diferente...
Até que ponto meu pensamento fugia...
Os pingos da chuva continuavam a fazer o chão escorregadio. Quase caio. Ri por um instante...
Recebo um telefonema "Onde você tá? Estamos preocupados porque acabou de ter um tiroteio." "Tiroteio? Pensei que fossem fogos!". "Não, eram tiros. Tá tudo bem?". "Sim..."

Tiroteio mental. Não me importo se alguém morreu. Não me importo se algo de perigoso está perto de mim, ou por vir.
O fato é que me sinto mais viva. E estou três andares acima do acontecimento. Estou menos longe do céu.

Prefiro pensar que estou mais perto. Não deve ser tão longe assim...
Quero ver os pingos da chuva se preparando pra molhar toda essa gente que não cabe mais em si. E vê-los se molhando, como em uma lavagem de espírito. Eles teriam que aceitar, não correr atrás de abrigo.
Chuva curadora do pesar.

Essas escadas não terminam...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A intimidade vem aos poucos. É uma espécie de aprofundamento do sentimento. Quando tudo é tão rápido, não adianta, a superficialidade passa logo aos nossos olhos nos aterrorizando com tão pouco conteúdo.
Eu gosto é de sentir o sentimento se transformando, se concretizando e se assegurando a cada dia que passa. Afirma-se e se eterniza.
É aquela música constante nos nossos ouvidos, que sempre acalma quando ouvida. É a subida de patamar do sentimento que cada vez mais vai se aponderando de cada mínimo detalhe da vida.
Não sinto mais vontade de escrever. Acho que a solidão fugiu de mim.
Nunca me senti tão segura e acalentada.

sábado, 23 de maio de 2009

Eu procuro fazer tudo calmamente, tentando afastar uma situação em que seja dominada por fatores externos à mim. Mas não adianta, porque a pressa interna continua me atormentando. Os meus movimentos são lentos, mas a consciência continua naquela correria que se passa aqui dentro...vai e vem, vai e vem, vai e vem.
Tô começando a achar que as coisas não passam. Que o tempo é só um acumulador de rasgos.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Nuances

A Páscoa passou e, inusitadamente, trouxe aquele sentimento de família à mim.
É verdade, ele é sempre presente. É algo do tipo que quando eu penso, eu nunca hesito, o pensamento é permanente: a família é a única que eu sempre vou contar e que eu não fico na dúvida se é amor. É amor. Família é sinônimo de amor.
Isso me foi instituído desde criança. Sempre me fizeram perceber isso e, bem, eu comprovei nos mais singelos atos.
O problema é que passei a ter tanta certeza no sentimento da família que desviei o foco nos outros tipos de relacionamentos. Ah, quanto a esses... eu sempre tô em dúvida. Até porque eu também sempre me mostro em dúvida aos outros. Eu me vejo metarfoseando o tempo todo o que eu sinto perante as pessoas e sei que como eu, elas são capazes do mesmo. Então, passo a duvidar o tempo todo, pois sei que também sou duvidável.
Isso é muito agoniante, porque há aquela vontade infinda de querer ter certeza do que o outro tá sentindo. Mas o outro sempre vai ser um enigma e o jeito é continuar jogando com os seus nuances.
Esse tipo de coisa eu pude metaforizar no joguinho de toda Páscoa.
Eu nem gosto muito de chocolate. É algo que eu não faço questão (e olha que eu faço questão de muitas comidas). Mas, toda Páscoa, eu insisto pra mamãe comprar ovos da Páscoa pra mim e pros meus irmãos e escondê-los no domingo do feriado para acharmos e lermos a mensagem que ela escreveu.
Quando criança, eu, costumeiramente, era a última a achar o meu ovo e teve uma vez que eu não consegui achar de jeito nenhum. Chorei, claro, era uma criança. Minha mãe me mostrou onde estava. Um lugar um pouco mais alto do esperado (pendurado no ar condicionado), totalmente perceptível, era só olhar um pouco mais pro alto, mas eu não tinha conseguido enxergar.
A partir daí comecei a me empenhar ao máximo a cada ano que passava. Sem muito sucesso. Conseguia achar mas não era a primeira a conseguí-lo. E os lugares não eram tão óbvios assim, mas eram completamente visíveis. Era normal eu ficar impressionada por ter passado muitas vezes perto do esconderijo e não ter reparado.
Esse ano eu fui a primeira a achar o ovo. Aconteceu o de sempre... demorei um pouco, passei várias vezes pelo esconderijo, mas acabei achando primeiro que os meus irmãos. Nada de especial aconteceu. Eu não aprendi novas técnicas de achar ovos de Páscoa e nem espionei a minha mãe pra ver onde ela escondia. Apenas aconteceu.
E daí que vem a metáfora. Suponhamos que o que o outro sente seja o ovo. Não é que a gente não tenha entendimento sobre como encontrar esse sentimento, identificá-lo e alimentarmo-nos dele. É apenas algo que depende das circunstâncias da vida.
Eu não fiz nada de especial pra encontrar o ovo da Páscoa, apenas procurei e achei, apesar de que passei despercebida por ele várias vezes. Assim acontece com o "sentir" do outro. São emitidos sinais, há toda uma formação discursiva por trás do que ele fala, mas nós passamos despercebidos. Eu passo despercebida. E, de repente, com nada planejado ou pressentido, há o momento que há a revelação. Sem mais nem menos. Nuances.
Talvez nem o sentimento da família seja definitivo e perceptível o tempo todo. É que ele é apenas de convivência tão íntima e repetitiva que torna-se fácil enxergá-lo melhor.
Ainda bem que eu o enxergo e não preciso pedir pra alguém me direcionar pra me mostrar onde ele está. O sentimento tá sempre ali. Pode ser que ele seja o que eu precise pra me direcionar à segurança do sentimento dos outros. Pode ser... vamo ver.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

No leito.

Eu não falo na luz do fim do túnel.
Falo de olhares que se encontram, formando um só caminho de luz.
Por que as pessoas confudem aquela idéia de morte com a visão de uma luz no fim do túnel?
A verdade é que não existe túnel!
Eu estou morrendo e nunca houve túnel.
Túnel é arredondado, sem declinações e deslances.
Minha vida nunca foi um túnel.
Minha vida sempre foi como é agora, uma janela que, ora se manifesta como abertura, liberdade, ora se manifesta como grade, prisão.
Quando falo do encontro dos olhares, a janela continua se manifestando como duas. Pode ser aquela luz irradiante, metaforizando vida e sensação boa. Mas também... ah, também representa uma luz que cega, que sufoca, que quer se livrar do olhar do outro.
Nessa segunda visão, eu geralmente me vejo possuindo do outro olhar e assim, deixando de ter o meu.
Pela minha saúde de volta, eu não posso perder a única coisa que dizem ser o meu encanto! Eu preciso de um encanto pra poder morrer em paz!
Pra que, pelo menos, no meu último adeus, quando forem se despedir de mim, despeçam-se olhando fixamente pros meus olhos fechados lembrando de quanta vida já existiu ali. Vida que irradia, metaforiza vida e sensação boa. Não quero vida grande, vida prisão. Quero não.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Pai, hoje é hoje?

Dias atrás, depois de um dia de bebida em excesso, meu pai acordou e perguntou se hoje já era amanhã. No meio das encarnações constantes daqui de casa, o meu querido ressaquiado lembrou de quando eu era criança e perguntei: "Pai, hoje é hoje?"

Essa confusão do tempo sempre chamou a minha atenção. Na verdade, todos esses mistérios recorrentes da vida sempre me despertaram um olhar mais apurado. Lembro de quando eu era surpreendida com questões existenciais como "De onde eu vim?", ao estar lendo um gibi. Deve ser por isso que a Filosofia sempre me interessou muito, e também deve ser por isso que eu adoro meus momentos sozinha, porque eu sei que nessas reflexões, eu acho respostas, mesmo que não possam ser transcritas e nem verbalizadas.
O tempo se faz relativo porque a nossa vivência nele se faz relativa. E a nossa dependência em relação ao tic tac do relógio, se torna paradoxal nesse ponto. Justamente, porque tudo é relativo. A gente sofre com a ânsia do amanhã, quando as sensações parecem mais aliviadas, o coração desaperta mais. Mas e quando de uma hora pra outra a gente muda de humor? Ok, o tempo passou, mas eu ainda acho que o que precisava passar era a gente. A Terra girando em torno do Sol não foi o fator principal da mudança dessas sensações desencontradas que nos perseguem. Desculpem-me, os astrólogos, mas eu acredito que tudo vem de dentro. A gente tem que se revolucionar o tempo todo, aí sim o tempo das nossas sensações passa.
Não sei se são as transformações biológicas, o nível hormonal, os batimentos do coração, ou as mágicas invisíveis que nenhum médico consegue ver, mesmo que seja no nervo mais difícil de se encontrar. As emoções tem um mundo à parte e aquele velho trecho da música do Legião Urbana faz muito sentido quando se trata desse tic tac das sensações: "temos nosso próprio tempo".
Cada um tem que fazer um relógio à parte da sua vida. O relógio das emoções. Mas diferente do convencional, nesse a gente não manda. Não sabe o minuto que vem depois, ou o segundo que acabou de passar. A gente só espera e segue o que vir de bom.