Dias atrás, depois de um dia de bebida em excesso, meu pai acordou e perguntou se hoje já era amanhã. No meio das encarnações constantes daqui de casa, o meu querido ressaquiado lembrou de quando eu era criança e perguntei: "Pai, hoje é hoje?"
Essa confusão do tempo sempre chamou a minha atenção. Na verdade, todos esses mistérios recorrentes da vida sempre me despertaram um olhar mais apurado. Lembro de quando eu era surpreendida com questões existenciais como "De onde eu vim?", ao estar lendo um gibi. Deve ser por isso que a Filosofia sempre me interessou muito, e também deve ser por isso que eu adoro meus momentos sozinha, porque eu sei que nessas reflexões, eu acho respostas, mesmo que não possam ser transcritas e nem verbalizadas.
O tempo se faz relativo porque a nossa vivência nele se faz relativa. E a nossa dependência em relação ao tic tac do relógio, se torna paradoxal nesse ponto. Justamente, porque tudo é relativo. A gente sofre com a ânsia do amanhã, quando as sensações parecem mais aliviadas, o coração desaperta mais. Mas e quando de uma hora pra outra a gente muda de humor? Ok, o tempo passou, mas eu ainda acho que o que precisava passar era a gente. A Terra girando em torno do Sol não foi o fator principal da mudança dessas sensações desencontradas que nos perseguem. Desculpem-me, os astrólogos, mas eu acredito que tudo vem de dentro. A gente tem que se revolucionar o tempo todo, aí sim o tempo das nossas sensações passa.
Não sei se são as transformações biológicas, o nível hormonal, os batimentos do coração, ou as mágicas invisíveis que nenhum médico consegue ver, mesmo que seja no nervo mais difícil de se encontrar. As emoções tem um mundo à parte e aquele velho trecho da música do Legião Urbana faz muito sentido quando se trata desse tic tac das sensações: "temos nosso próprio tempo".
Cada um tem que fazer um relógio à parte da sua vida. O relógio das emoções. Mas diferente do convencional, nesse a gente não manda. Não sabe o minuto que vem depois, ou o segundo que acabou de passar. A gente só espera e segue o que vir de bom.
solidões compartilhadas
Há 6 anos